Protocolos para Lesões Comuns Causadas por Armas da Policia

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Para Médicos de Rua e Demais Profissionais de Saúde que Atendem Manifestantes

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As orientações seguintes destinam-se a preparar os Médicos de Rua1 e demais profissionais de saúde para tratarem algumas das lesões comuns causadas pela violência policial. Elas foram extraídas da experiência de luta contra um aeroporto que o governo francês tentou – e falhou – em construir em Notre-Dame des Landes. Pode ser difícil encontrar informações sólidas sobre como tratar tais lesões com base na experiência da vida real. A maioria dos profissionais de saúde têm pouca experiência no tratamento de lesões causadas por armas policiais; esse guia partilha o conhecimento que os médicos adquiriram ao tratá-las repetidamente, na esperança de poupar aos outros o trabalho de ter de aprender por tentativa e erro. Ter formação médica não o qualifica para ser um médico de rua, como afirma elegantemente a Coalização Do No Harm; os médicos de rua ganham com a partilha de informação sobre o que funciona e o que não funciona, numa discussão em constante evolução. Os sinais de perigo aqui enumerados também podem ajudar as pessoas feridas a identificar quando os seus sintomas são graves e quando devem procurar cuidados médicos profissionais.

Estas orientações não são definitivas; há muitas coisas que não estão incluídas aqui. Por exemplo, a polícia utilizou milhares de recipientes de gás lacrimogêneo e granadas na ZAD durante os meses de abril e maio de 2018, mas relativamente pouco spray de pimenta. O foco aqui é nos protocolos, que foram amplamente testados. Preparamos essa tradução em solidariedade com a atual revolta, partilhando essas informações na esperança de que sejam úteis para os médicos de rua nos EUA.

O que se segue não é um guia do tipo “faça você mesmo”. A sua área local ou grande cidade próxima provavelmente tem um coletivo de médicos de rua – encontre-os! Esses coletivos às vezes fazem formações para novos médicos. Muitas das práticas aqui detalhadas requerem vastos conhecimentos e experiência – e podem realmente machucar alguém, se mal feitas. Por favor, não ponha em risco a saúde dos outros alegando experiência que não tem ou tentando fazer algo fora do seu contexto.


A fotografia de título é da Ujimaa Medics. Fundada por mulheres negras em Chicago, eles treinam comunidades para a primeira resposta a emergências urbanas.


Embora a melhor forma de aprender a ser um médico de rua seja através dos próprios médicos de rua, aqui estão algumas fontes para mais informações sobre a história e a prática da medicina de rua – desde o seu início como instrumento de autodefesa durante o Movimento dos Direitos Civis até à sua utilização na recente revolta em resposta à morte de negros às mãos de um sistema de policiamento brutal e racista.

Sempre priorize fontes que estejam atualizadas e utilize uma prática baseada em evidências. Algumas referências (em inglês):

Um vídeo recente feito por uma coligação de medics sobre como permanecer seguro e saudável nas ruas.


As Origens Destes Protocolos

Os protocolos a seguir foram escritos pelo ZAD Healers Group, uma equipe interdisciplinar de enfermeiros, médicos, médicos de rua , fitoterapeutas, psicólogos, naturopatas e terapeutas holísticos que faziam parte de uma rede mais vasta de trabalhadores da saúde envolvidos na luta pela defesa da ZAD (Zone à Défendre, “Zona a Defender”) em Notre-Dame des Landes.

Nas palavras deles:

Durante os despejos do Outono de 2012, vários profissionais de saúde vieram apoiar os médicos no terreno. Ao longo dos anos, temos trabalhado em conjunto para preparar estratégias logísticas e de comunicação e para dispor dos materiais necessários em caso de tentativas de despejo ou de outra intervenção policial. Temos também discussões regulares, e formações recíprocas regulares.

Assim que transformamos a nossa dissidência em ação concreta, ou bloqueamos o bom funcionamento da economia empresarial, a repressão se sucedeu rapidamente. Seja pela duração do protesto, seja porque vivemos no bairro errado ou por causa da cor da nossa pele, quando somos rotulados como “indesejáveis” ou “radicais”, o Estado nos fere e nos mata através dos seus agentes da lei.

Conscientes desses riscos, em muitos países, grupos revolucionários e movimentos ativistas desenvolveram as suas próprias redes de apoio médico para manifestações ou ações diretas. Esta prática difere de grupos humanitários como a Cruz Vermelha, porque nós não fingimos ser neutros. Assumimos uma posição política clara e um papel ativo no conflito e no apoio que damos aos nossos camaradas em luta.

Numa manifestação, as equipes de médicos de rua tentam estar presentes no local o mais cedo possível para poderem prestar cuidados de emergência às pessoas que os solicitem e avaliar as necessidades da situação antes da chegada de uma ambulância, que por vezes é bloqueada ou atrasada pela polícia. Há também uma avaliação dos riscos legais envolvidos no recurso dos cuidados de emergência oficiais: por exemplo, o risco de verificações de identidade e detenções dentro dos hospitais, visando aqueles que não estão documentados, que têm mandados pendentes, ou simplesmente porque o fato de estar ferido faz de alguém um suspeito.

A polícia atualiza regularmente seu equipamento dedicado à repressão com novas armas químicas, elétricas e físicas. Como médicos de rua, tentamos responder divulgando técnicas de defesa desenvolvidas no terreno e partilhadas por todo o mundo para a prevenção, proteção e cura.

Para nós, o conhecimento médico vem com uma reflexão política sobre como o pomos em prática, para evitar reproduzir as relações de dominação, gestão e expropriação que caracterizam a instituição médica. Como médicos de rua, queremos fazer do consentimento das pessoas feridas uma prioridade e dar-lhes a informação de que necessitam para fazerem escolhas claras e informadas por si próprias.

-Extraído de uma declaração dos médicos de rua da ZAD, 2015. (Publicado em papel; não disponível online).

Uma bomba de gás lacrimogêneo.


Protocolos Não-Definitivos para Lesões Comuns por Armas Policiais

Os protocolos seguintes foram escritos após a mais recente tentativa de despejo da ZAD em 2018, durante o qual os médicos de rua criaram um sistema paralelo de cuidados de emergência, uma vez que a polícia bloqueou as ambulâncias com tanques. Estes protocolos baseavam-se no acesso a recursos e competências e conhecimentos específicos; foram editados por uma questão de clareza e contexto. Muitos destes protocolos pressupõem a capacidade de acesso aos cuidados médicos e a transferência para um hospital como uma opção de apoio. Os EUA não dispõem ainda de cuidados de saúde universais (ainda). Se não tiver seguro de saúde, mas tiver relações com os profissionais de saúde da sua comunidade, procure recursos ou trabalhe com as pessoas à sua volta para encontrar outras formas de obter os cuidados de que necessita.

Essas orientações são escritas para os médicos de rua e profissionais de saúde com formação, para responder à violência policial. Não são um substituto para tratamento ou diagnóstico médico. Por favor, não faça práticas fora do seu contexto!


I. Agentes Químicos

Também chamado de gases CS (alonitrila), CN (cloroacetofenona) e CR (dibenzoxazepina); o gás lacrimogêneo é um aerossol que atua como um irritante do sistema respiratório. O spray de pimenta (gás OC) é uma substância vermelha à base de óleo que contém capsaicina, derivada da pimenta, que é pulverizada diretamente sobre a pele e os olhos.

A. Gás Lacrimogêneo

i. Em baixas concentrações:

— Sintomas: irritações da pele e dos olhos e queimaduras — Tratamento: Lavar o máximo possível, com pressão de água ou fricção suave.

  • Olhos: enxaguar com solução salina (água + sal, 9 gramas por litro). Não precisa de ser esterilizada.
  • Pele: misturar 90% de água, 10% de Maalox, ou água com 4% de bicarbonato de sódio. Se você não tiver acesso a eles, água simples servirá para gás lacrimogêneo.

— O gás lacrimogêneo pode causar problemas respiratórios ou provocar ataques de asma. Para pessoas com asma, utilize Salbutamol, ou mesmo prednisona oral (por um médico experiente) se estiverem sem fôlego. Evite o gás lacrimogêneo durante vários dias depois.

ii. Em concentrações elevadas ou com exposição frequente e repetida:

— Pode resultar em incapacidade ou outros sintomas neurológicos: náuseas, vômitos, dores de cabeça intensas, confusão. Nessas apresentações:

  • Descarte concussão!
  • Saiba o mecanismo da lesão. O que aconteceu? O gás? Explosão de som de uma granada? Impacto na cabeça? Queda? Pergunte à pessoa ferida e às testemunhas.
  • Eles perderam a consciência ou lembram-se de tudo?

— Para dor: anti-inflamatórios, como Ibuprofeno.
— Para náuseas e vômitos moderados: medicamentos anti-náusea orais ou supositórios como a Metoclopromida (Ondansetrona e Prometazina estão mais amplamente disponíveis nos EUA). Pastilhas de gengibre e chá de hortelã-pimenta ou camomila também ajudam.
— Para vômitos graves e incapacidade de manter líquidos ou medicamentos no estômago (risco de desidratação): consulte o hospital para hidratação intravenosa e observação.
— Para confusão intensa: Nada por via oral. Colocar a pessoa ferida na posição de recuperação e chamar uma ambulância.

Certifique-se de que as pessoas sabem usar luvas espessas de couro ou especificamente resistentes ao calor (como luvas para churrasco) antes de pegar ou tocar em latas de gás lacrimogêneo para evitar queimaduras.

Bomba de efeito moral (concussão) explodindo.


II. Granadas de Concussão e outros Dispositivos Explosivos

A. Feridas por Explosão

As feridas de explosão afetam principalmente os ouvidos.

i. Rompimento do tímpano

— Ocorre raramente na nossa experiência. Não é uma emergência.
— Sintomas : dor, sangramento do ouvido, redução temporária da audição.
— Tratamento: Examine o ouvido com um otoscópio, de preferência em 24 horas. Um tímpano rompido cicatriza-se em 2 semanas.
— Se for possível uma avaliação médica, pode ser receitado um antibiótico (ofloxacina auricular) por um curso de oito dias de forma preventiva para evitar infecção do ouvido médio e áreas adjacentes (atrás do tímpano). Em qualquer caso, o acompanhamento com os cuidados primários em 10 a 15 dias é ideal para otoscopia e encaminhamento ao otorrinolaringologista se houver anomalia persistente.

ii. Lesão da orelha interna por explosão

— Ocorre frequentemente na nossa experiência.
— Sintomas: dor, zumbido nos ouvidos (tinnitus), perda de audição, vertigens ou tonturas.
— O zumbido nos ouvidos não vem do tímpano, mas do ouvido interno! A perda auditiva é o fator guia para o tratamento (não o zumbido).
— Teste de audição simples: esfregue o polegar contra os outros dedos ao lado do ouvido da pessoa. Pergunte se ela pode ouvir, e faça o mesmo do outro lado.
— Tratamento: Se a perda auditiva persistir durante 24 horas após a explosão, marque uma consulta com um otorrinolaringologista (ouvido, nariz e garganta) o mais rápido possível. Para evitar ou pelo menos limitar danos auditivos permanentes (resultantes da morte de células no ouvido interno), pode ser indicado um esteroide: a prednisolona no ouvido (0,5mg a 1mg/kg/dia durante 2-3 dias) é a prescrição mais comum.

iii. Lesão pulmonar por explosão

— Ocorre raramente em nossa experiência.
— Sintomas: Dificuldade em respirar nos dias seguintes ao impacto.
— Tratamento: Emergência. Edema pulmonar requer hospitalização. Embolias aéreas causadas por lesão nos pulmões podem causar convulsões, derrames e/ou danos cerebrais permanentes quando bolhas de ar passam dos pulmões para o sangue e entram no cérebro.

iv. Lesão intestinal por explosão

— Ocorre raramente em nossa experiência.
— Sintomas: Dor abdominal, sangue nas fezes (melena) nos dias seguintes ao impacto pode indicar perfuração do intestino. Febre e distensão abdominal (estômago duro) podem indicar peritonite.
— Tratamento: Ambas são emergências médicas e requerem hospitalização!

—Occurs rarely in our experience.
—Symptoms: Abdominal pain, blood in stool (hematochezia) in the days following impact can indicate bowel perforation. Fever and abdominal distention (hard stomach) can indicate peritonitis.
—Treatment: Both of these are medical emergencies and require hospitalization!

v. Lembre-se!

— Abrigue a pessoa do barulho externo.
— Não hesite em contatar os prestadores de serviços médicos de emergência se houver algum impacto no funcionamento cognitivo ou danos nos órgãos.
— Uma consulta especializada para ferimentos no ouvido é indicada em 24 a 48 horas.
— Observe as pessoas com ferimentos provocados por explosões durante vários dias. Os sintomas que indicam complicações podem ser retardados, tais como alterações na audição, na respiração e nas funções abdominais.

B. Feridas por estilhaços

As feridas de estilhaços ocorrem frequentemente, na nossa experiência. Os estilhaços são frequentemente de plástico; às vezes são de metal. No impacto com o asfalto, as granadas de concussão podem impulsionar a sujeira e o asfalto juntamente com os estilhaços; isto aumenta o risco de infecção. Por vezes, as feridas de entrada são pequenas, mesmo minúsculas. Por vezes, são grandes e visíveis. Os ferimentos com estilhaços são graves mesmo que não pareçam ser grandes. O exame, a observação e o acompanhamento são vitais.

NUNCA se aproxime ou pegue uma lata que ainda não esteja fumegando. Pode ser uma granada de concussão com a capacidade de arrebentar sua mão. (Isto aconteceu tanto na ZAD como nos protestos de Gilets Jaunes).

Examine e avalie a largura e a profundidade da ferida antes de se correr para enfaixá-la!

Tratamento por Área de Lesão:

i. Tórax, abdômen, face

Emergência: risco potencial para a vida. Consulte um médico experiente. Evacuar o local e avaliar os danos no sistema respiratório/neurológico/cardiovascular e a extensão do sangramento.

ii. Extremidades

Procure por:

—Articulações danificadas.
—Danos nos nervos. Os danos nos nervos requerem hospitalização imediata! Verifique pulso, movimento e sensação acima e abaixo da ferida; compare os membros uns ao lado dos outros para referência. Procure por paralisia, fraqueza ou dificuldades de amplitude de movimento. Entorpecimento, formigamento, ou picadas e agulhamento indicam lesão nervosa.
—Tendões danificados:

  • Especialmente nas mãos e nos pés
  • Ocorre frequentemente com feridas no lado de trás da mão (o lado com as unhas).
  • Sintomas/sinais: Lesões visíveis do tendão no fundo da ferida, ou suspeita de lesão tendinosa baseada na anatomia.
  • A amplitude normal do movimento não significa que não haja danos nos tendões.

Retire os estilhaços com base no tamanho. Todas as peças grandes devem ser removidas.


i. Corpo estranho de grandes dimensões numa ferida de grandes dimensões

— Ocorre com pouca frequência
— Tratamento: Ver um médico experiente que possa encaminhar o paciente para um hospital ou remover o corpo estranho e fechar a pele, empregando conhecimentos avançados de anatomia e controlando o risco de infecção com cuidados de acompanhamento e antibióticos profiláticos.

ii. Pequena perfuração que parece benigna mas com profundidade desconhecida

— Ocorre frequentemente.
— Tratamento: Limpeza, curativo e acompanhamento. Se houver muitos pedaços obviamente rasos de objetos estranhos (como erupções cutâneas), o molho de mel2 pode retirá-los sem remoção física. Monitorizar de perto para detectar infecções.

Tratamento localizado:

  • A compressão direta parará a hemorragia na maioria das vezes.
  • Cada ferida aberta requer higienização básica! O médico deve lavar as mãos com água e sabão, e usar luvas médicas que mudam entre cada pessoa.
  • Esfregar com sabão Betadine (do tipo vermelho) o mais rápido possível: algumas feridas perfuradas por estilhaços não são imediatamente visíveis.

Limpeza e secagem:

— Lave a ferida com água e sabão antes de fazer qualquer coisa (ou com solução salina estéril, se não houver água e sabão disponível).
— Seguir com água oxigenada (peróxido de hidrogênio), que tem a vantagem de espumar e pode, por vezes, extrair pequenos pedaços de estilhaços.
— Se o corpo estranho for pequeno ou difícil de ver, use pinças esterilizadas mas não quebre-o nem o piore! Não é um grande problema se ficar dentro, mas normalmente vale a pena tentar removê-lo. O corpo rejeita naturalmente pequenos pedaços, como uma lasca, ou cria um tampão à sua volta. O dano é feito quando os estilhaços entram no corpo; o risco adicional é a infecção.

  • Utilizar pinças médicas esterilizadas. As pinças normais (para remoção de pelos) são demasiado grandes e rompem a carne.
  • Um ímã pode ajudar a remover estilhaços de metal. Puxe os estilhaços para trás através do caminho de entrada – no sentido contrário, pode criar uma nova ferida!
  • Se for demasiado doloroso, use anestesia local como spray de lidocaína na base da ferida.

Desinfecção com antissépticos:

— Lembre-se: se uma garrafa antisséptica estiver aberta durante mais de um mês, descarte a garrafa. Assinalar a data na garrafa quando for aberta. Dar prioridade às garrafas mais pequenas para evitar que expirem.
— Betadina amarela (dicloridrato de betaistina), iodopovidona. (Usar Betadine vermelho primeiro se for impossível lavar com água e sabão.) Existem também em doses individuais. As alergias ao iodo não se aplicam ao Betadine.
— Clorexidina é boa, como a Dosiseptina de uso único, mas não a Biseptine (à base de álcool) porque arde.
— O hipoclorito de sódio diluído (solução de Dakin) funciona bem, mas tem de ser diluído a 50% em água estéril, por isso é impraticável. O álcool é eficiente mas queima muito.
— Para feridas puntiformes: Desinfetar a superfície e o interior. Utilizar uma seringa anti-séptica sem agulha. Colocar a extremidade da seringa no interior da ferida antes de injetar. Não utilize água oxigenada para isso.

Curativos:

— Ferida acessível com hemorragia controlada: atadura seca, compressas de gaze, atadura elástica.
— Ferida escorrendo sangue ou pus: Considerar uma almofada absorvente como uma embalagem hemos-tática, seguida de uma compressa e ligadura no topo.
— Se a hemorragia for moderada ou a ferida não acessível: utilizar mel cru limpo (não do tipo xarope de milho), Neosporin, ou tulle-gras3, depois comprimir e enfaixar.

Trocas de curativo:

— A cada 24 horas no início (dependendo da gravidade), depois a cada 48 horas.
— Lavar com soro fisiológico. Não voltar a aplicar antissépticos, pois isso pode atrasar a cicatrização.
— Prevenir infecções secundárias. Estas ocorrem frequentemente com feridas de estilhaços! Os sinais de infecção incluem vermelhidão, inflamação, pus e secreções, ou febre. Obtenha aconselhamento médico experiente e antibióticos locais ou orais durante 48 horas após a lesão.
— Os casos podem necessitar de radiografia, ultrassom ou consulta cirúrgica, dependendo da ferida.

Aconselhar pessoas feridas: Se sentir febre, calafrios, rigidez, vermelhidão, umidade à volta da ferida, placas vermelhas ou manchas na pele, ou uma deficiência neurológica ou motora, consulte um médico, um médico de rua ou dirija-se imediatamente a um serviço de urgência.


Aprendizados para ferimentos de estilhaços:
** Não cutuque muito para tirar pedaços pequenos.
** Avalie imediatamente se há ferimentos nos nervos ou tendões.

** Monitore para sinais de infecção secundária durante vários dias.**


III. Ferimentos de bala de borracha

As lesões por bala de borracha frequentemente deixam um grande hematoma. Procure outras lesões! Se suspeitar de trauma que exija cirurgia, não dê nada à pessoa por via oral. Não beber, não comer, não fumar.

Modelo de bala de borracha modelo comumente usado no Brasil ainda no cartucho.

A. Por localização

i. Grandes contusões nas extremidades

— Avaliar o estado neuro-vascular: Pulso, movimento, sensibilidade e cor. Se houver uma anomalia, a hospitalização é urgente.
— Palpar os ossos para detectar a dor e o crepitação (estalos). Testar cada articulação quanto ao intervalo de movimento. Se não conseguir excluir uma fratura, faça uma radiografia no prazo de 24 horas. A suspeita de uma fratura deslocada (encurtamento, etc.) requer uma radiografia imediatamente.
O impacto da bala de borracha nos músculos e tendões não é uma emergência.
— Trate todos os hematomas ou hematomas com tintura ou gel de Arnica (Arnica montana), ou tintura de Margarida (Bellis perennis). Aplicar topicamente o mais rapidamente possível (tintura real, não homeopática). — Se pretende hospitalizar, aguarde antes de aplicar o tratamento tópico: pode mascarar a gravidade da condição. — O mais importante é imobilizar a lesão.

ii. Impacto Facial

— Ver um médico experiente.
— Palpar os ossos faciais à procura de dores pontuais e crepitações indicando uma fratura: orbitais, nariz, processos zigomáticos, mandíbula, queixo, articulação dentária (fechamento e alinhamento). Examinar cada dente.
— Para dentes que estejam partidos, em movimento, sem assento ou dolorosos, consulte imediatamente um dentista. Conservar o dente em leite, soro fisiológico ou saliva. O ideal seria que a pessoa ferida o levasse na boca, tendo o cuidado de não engolir.

Avaliação Neurológica Simples da Face:

  • Comparar sensação em ambos os lados da testa, bochechas, queixo.
  • Movimento: simetria no sorriso, olhos simétricos quando bem fechados, movimento dos olhos (nos dois sentidos, vertical, horizontal, diagonal), inversão e aversão4, pupilas iguais, redondas, reativas à luz e acomodadas.

iii. Impacto ocular

— Hospitalização imediata.
— Nada por via oral: não comer, não beber, não fumar.
— Lave a zona com soro fisiológico esterilizado.
— Deite a pessoa e cubra os dois olhos com compressas esterilizadas.

iv. Impacto do nariz

— Provável fratura.
— Realizar um raio-X.
— Epistaxe é uma hemorragia do nariz; pode tornar-se uma grande hemorragia.

  • Apertar a ponte do nariz entre dois dedos, com o pescoço inclinado para a frente.
  • Os médicos experientes podem tapar as narinas com gaze.
  • Para grandes quantidades de perda de sangue, chamar uma ambulância.

v. Impacto no tórax

— Dor pode indicar uma costela partida ou lesão pulmonar. Consultar um médico experiente.
— Fratura da costela: dor localizada à palpação ao longo da linha do esterno.

  • Dor com inalação profunda.
  • Não há angústia respiratória ou tosse.
  • Se for uma fratura simples, tratar com repouso, analgésicos para assegurar uma respiração profunda e evitar pneumonia, e bálsamo de Confrei5 (Symphytum officinale) de uso tópico 2 a 3 vezes por dia.

— Pneumotórax: dor e tosse, por vezes cuspindo sangue.

  • Radiografia no prazo de 24 horas, ou imediatamente se houver angústia respiratória.
  • Monitorar a frequência respiratória. O normal é 15-20 respirações por minuto.

vi. Impacto abdominal

— Ver um médico experiente.
— Cheque por:

  • Dor à volta do fígado (quadrante superior direito) e do baço (quadrante superior esquerdo): sinais de hemorragia interna indicam perigo. Faça uma ultrassonografia rapidamente.
  • Sangue nas fezes(melena), dores abdominais, zona dura do estômago ou febre, suspeita de peritonite: hospitalização imediata.

vii. Impacto abdominal e torácico

— Checar sinais de hemorragia interna (choque) tais como palidez, fraqueza, sudorese (transpiração), taquicardia com pressão arterial normal.
— Os sinais tardios incluem pressão arterial baixa, alteração do estado mental, perda de consciência.
— Manter em observação durante várias horas!

viii. Impacto na região lombar

— Verificar se há sangue na urina. O ideal é fazer uma urinálise para verificar se há danos nos rins.

ix. Impacto testicular

— Se tiver hematomas ou dores excessivas, faça um ultrassom de emergência.


Versão desse artigo adaptado para o Brasil:

Protocolos não-definitivos para lesões comuns por armas policiais — uma adaptação à realidade brasileira

  1. Os Médicos de Rua, ou Médicos de Combate (Street Medics, ou Action Medics), são voluntários com diferentes graus de formação médica que apoiam protestos e manifestações para prestar cuidados médicos, tais como primeiros socorros. Ao contrário dos técnicos médicos de emergência regulares ou paramédicos, que servem com instituições mais estabelecidas, os street medics operam normalmente de uma forma menos formal. Podem tratar lesões causadas por traumatismos, armas de dissuasão química e outras armas de controle de multidões, ataques de animais, bem como cuidados gerais para situações como exaustão do calor, convulsões epiléticas e bem-estar geral. 

  2. O mel tem adquirido importância no tratamento de feridas devido às suas propriedades particulares, nomeadamente acidez, atividades antibacteriana, anti-inflamatória e antioxidante, e ações osmótica, desbridante e desodorizante. 

  3. Tulle-gras é um tipo de curativo comumente usado na França, consiste em tecido impregnado com óleo de parafina macio (98 partes), bálsamo do Peru (1 parte) e azeite (1 parte), que evita a aderência a feridas. 

  4. São alterações anatômicas da bordas palpebrais que podem estar viradas para fora (eversão), chamada de ectrópio, ou para dentro (inversão) em direção ao globo ocular, denominado entrópio. 

  5. Planta medicinal, também conhecida como consólida, confrei russo, leite vegetal e língua de vaca. Apenas está indicado para uso externo e serve para tratar inflamações, cicatrizes, fraturas, reumatismos, micoses, dermatites, espinhas, psoríase e eczemas.