Entre os meses de junho e julho de 2019, participantes da rede de coletivos CrimethInc. das Américas do Sul e do Norte percorreram 15 cidades em 7 estados do Brasil para lançar a versão impressa do livro Da Democracia à Liberdade. A turnê também serviu como uma oportunidade para comparar experiências sobre a resistência ao regime de Trump e o governo populista de extrema-direita de Jair Bolsonaro no Brasil. Este relato de viagem também oferece uma visão geral de alguns dos centros sociais e movimentos em curso no Brasil hoje. Temos publicado informes e análises das lutas sociais do Brasil há muitos anos; você pode ler alguns dos nossos artigos aqui.
Foram 21 eventos ao todo, passando por centros sociais, ocupações, sedes de sindicatos, universidades, centros de pesquisa e alguns lugares inusitados. A proposta era levar tanto as ideias do livro como promover debates com pessoas e grupos organizados em lutas sociais em lugares tão diversos. É sempre uma grande experiência visitar e compartilhar mais que palavras escritas com quem luta para construir um mundo além do Capitalismo.
Em quase todos as cidades encontramos também muita gente nova e interessada em conhecer sobre as perspectivas anarquistas sobre democracia e sobre experiências concretas de resistência ao Capitalismo e aos governos de direita que chegam ao poder agora nas Américas – e em outras partes do mundo. Nesses casos, foi importante ainda termos em mãos centenas de cópias do panfleto Para Mudar Tudo em português com uma introdução acessível e profunda sobre as ideias anarquistas.
Construímos novos laços e fortalecemos antigas relações com movimentos, coletivos e centros sociais e ocupações nas cidades visitadas. As diferenças entre Brasil e os Estados Unidos são muitas. Mas os abismos sociais entre as classes dentro de cada país são muito maiores do que as diferenças que separam as classes oprimidas desses países. Afinal, fronteiras e nacionalidade são algumas das abstrações impostas sobre nós para impedir a solidariedade entre as classes oprimidas de todos os países. Por isso, nosso objetivo é sempre produzir um diálogo no nível internacional.
O livro Da Democracia à Liberdade foi traduzido coletivamente e versões digitais e em zines já circulavam em português desde 2017. Mas graças aos esforços de coletivos editoriais independentes como No Gods No Masters, Subta e Facção Fictícia, foi possível imprimir mil cópias do livro em uma ótima qualidade.
Reunimos aqui o que vimos e aprendemos nessa turnê para continuar compartilhando com todas as pessoas que encontramos e com aquelas que não pudemos encontrar na estrada. Enquanto membros brasileiros e estadunidenses, trazemos diferentes visões de lugares que já visitamos ou que fomos pela primeira vez levanto esse projeto. Infelizmente, por tempo e recursos, foi possível visitar “apenas” 3 das 5 grande regiões do Brasil. Numa próxima oportunidade queremos visitar o Norte e o Nordeste também brasileiros, para que possamos continuar essa troca de experiências e solidariedade que não respeitam fronteiras ou distâncias!
Goiânia e Brasília
Nos reunimos em São Paulo e voamos com as malas cheias de livros e zines para os primeiros eventos em Goiânia e Brasília. Infelizmente, não pudemos ter um carro ou van conosco durante todo o trajeto, então o jeito foi recorrer a ônibus, avião, táxi, metro, carona, etc. Tudo isso carregando centenas de livros e zines que destruíram várias rodinhas de malas e carrinhos de feira pelo caminho.
Nossa primeira parada foi em Goiânia, na Casa Liberté, um centro social que recebe atividades organizadas por diferentes coletivos e movimentos anarquistas da região, como a FAT, Federação Autônoma dos Trabalhadores. O evento foi organizado em conjunto com o selo de música independente Two Beers Or Not Two Beers Records.
Antes da mesa de debates foi exibido o documentário “PARQUE OESTE, história de uma luta pela moradia em Goiânia”, que relata o despejo ilegal e violento da ocupação Sonho Real em 2005 e da vitoriosa luta por moradia das famílias que sobreviveram à operação policial que colocou 14 mil pessoas na rua e executou ao menos duas pessoas a sangue frio. Estavam presentes a diretora do filme e a sobrevivente e militante Eronildes Nascimento. Pedro Nascimento, marido de Eronildes e pai do seu filho, foi um dos mortos pela polícia na desocupação.
A casa estava lotada e mais de 100 pessoas e um debate animado – uma ótima estreia para a turnê. Dividimos a mesa com Eronildes, que narra sua história no documentário e conta sobre a luta das famílias que hoje ocupam um novo terreno agora regularizado e conhecido como Real Conquista, também em Goiânia.
Foi emocionante ver o filme estar ao lado dela na mesa de debate. Anarquistas e militantes de todo o Brasil acompanharam ou estiveram em contato com o processo de resistência do bairro Sonho Real. Brad Will, um anarquista e jornalista do Indymedia dos Estados Unidos e conhecido por alguns de nós pessoalmente, filmou o dia a dia e o desalojo. Suas imagens podem ser vistas no documentário “PARQUE OESTE”. Brad foi assassinado no México enquanto filmava os levantes populares em Oaxaca, 2006, no ano seguinte aos eventos em Goiânia.
Eronildes conheceu Brad. Ela contou sobre como as filmagens do nosso companheiro ajudaram a mostrar a violência absurda dos agentes do Estado e disse que os moradores pretendem construir uma praça com o nome dos companheiros mortos no desalojo mas também uma praça chamada Brad Will para homenagear nossos companheiros caídos. Ficamos profundamente comovidos ao saber de tudo isso. Devemos muito ao Brad por nos mostrar que é possível que ativistas dos Estados Unidos ofereçam solidariedade relevante a pessoas em comunidades muito mais oprimidas no Sul Global e que é possível que populações pobres no Brasil e no México podem confiar nos anarquistas de nossos círculos.
Além disso, se não tivéssemos chegado a Goiânia, os amigos de Brad nos Estados Unidos talvez nunca ficariam sabendo sobre esse documentário feito com suas filmagens ou sobre as formas como ele é lembrado no Brasil. É incrível imaginar que poderia ter haver uma praça em Goiânia batizada com o nome de um anarquista estadunidense assassinado sem que essa notícia chegasse à sua casa. Talvez nunca saberemos de todas as maneiras que nossos esforços afetam o mundo.
Eronildes é uma das mais importantes lideranças no assentamento onde vide e nas lutas por moradia em Goiânia e disse estar cada vez mais inclinada ao anarquismo por sentir que qualquer coisa que o povo precise, só é possível através da luta organizada pelo próprio povo, uma vez que representantes políticos e os ricos nunca fizeram nem farão nada por nós.
Em Brasília também rolou debate animado em um inusitado bar de jogos eletrônicos e fliperama. Revimos muita gente, conhecemos várias pessoas novas, trocamos materiais e ideias sobre lutas e projetos locais. Antes do debate rolou transmissão do jogo da seleção feminina de futebol. Também discutimos futuros projetos de publicação em conjunto. Ouvimos muito sobre os prédios projetados pelo arquiteto comunista Oscar Niemeyer em Brasília, e todo o projeto da cidade planejada para se tornar a capital do Brasil em 1960. Mas não tivemos tempo de visitar as partes planejadas em nosso cronograma apertado. Voltamos para São Paulo voando na manhã seguinte e na noite do mesmo dia já pegamos ônibus para Maringá, no Paraná.
Maringá, Curitiba, Florianópolis e Criciúma
Em Maringá, passamos o dia com camaradas da cidade e conhecemos um pouco da história e dos espaços da cidade. Visitamos um delicioso estabelecimento vegetariano e vegano de alguns camaradas, o Vaca Louca Café, onde as portas dos banheiros são pintadas com a arte do nosso clássico pôster de gênero. Passamos onde manifestantes se reuniram para vaiar e barrar um comício eleitoral de Bolsonaro em sua campanha ainda em 2018. À noite montamos uma mesa em frente ao DCE da Universidade Estadual, onde algumas umas 30 pessoas já estavam aguardando o debate e outras se juntaram ao passar pelo local.
Em Curitiba, nós falamos em outro café, Veg Veg, que também tinha uma deliciosa comida vegana e a arte de nosso poster de gênero pintado em sua parede.
De lá seguimos para Florianópolis para falar em mais uma universidade. Dessa vez dentro do campus da Universidade Federal de Santa Catarina. O local do encontro foi a Tarrafa Hacker Club, um centro comunitário muito interessante que funciona laboratório dedicado à pesquisa e difusão de conhecimento em tecnologia, segurança digital, ciência, arte digital. Mesmo com várias atividades políticas interessantes na USFC rolando ao mesmo tempo foi possível lotar a sala e ter um debate animado trocando experiências em movimentos sociais no Brasil e no mundo da última década. Ao final ainda deu pra se juntar à festa junina e samba rolando no campus.
Chegamos a Criciúma no dia 26 de junho. O evento foi organizado pela ACR - Anarquistas Contra o Racismo, no clube Sociedade Recreativa União Operária. O clube é gerido por 7 coletivos e entidades dos movimentos negro da cidade. Trabalho lindo de várias pessoas que retomam um espaço tradicional da cidade que foi um clube da comunidade negra fundado na década de 1930. Uma vez que membros da comunidade não se sentiam bem-vindos e acolhidos em clubes e espaços predominantemente brancos da época, decidiram fundar seu próprio clube para garantir cultura, recreação, socialização e resistência. Trabalho incrível da galera com cultura negra, saúde mental, profissionalização e muitas outras frentes. O prédio é enorme e fica numa praça enorme, com dois campos de futebol gramados em meio a uma área que hoje é considerada nobre. E todos os movimentos envolvidos estão tendo muito trabalho para revitalizar todo o espaço após anos de abandono. Inspirador trocar experiências de organização de base e de luta com essa galera. Foi gratificante estar com todos os grupos e pessoas membros da SRUO e do ACR. Esperamos contribuir para difusão do projeto e de tudo que ele abriga.
Porto Alegre
Foi incrível estar esses 3 dias do último final de semana em Porto Alegre para apresentar as duas atividades diferentes da turnê. Sábado, dia 29, falamos na Associação de Pesquisa e Práticas em Humanidades – APPH, sobre o livro Da Democracia à Liberdade. Debate rendeu e foi ótimo conhecer mais um espaço independente dedicado a pesquisas e formas de organização práticas de resistência anticapitalistas. Logo pela manha, antes da nossa fala, rolou uma apresentação da filósofa Débora Danowski sobre mudanças climáticas e o antropoceno. Muito legal ver um espaço aberto à comunidade dedicado a oferecer oficinas, palestras e cursos gratuitos ou acessíveis. Vale a pena conhecer a APPH.
E no dia 30, domingo, apresentamos a fala Resistência Anarquista na era Trump. Foi um dos eventos mais cheios da tour e rolou no Café Bonobo, um espaço vegano, anárquico e autogerido e conhecido dos movimentos anarquistas de Porto Alegre. Porto Alegre tem muitas iniciativas e cooperativas como essas onde a galera organiza seu trabalho, seus horários e suas estratégias sem patrão. Um outro exemplo é o espaço Aurora, onde você almoça e paga o quanto pode ou quer pela refeição.
Segunda feira tivemos nosso primeiro dia de descanso da turnê e nossos compas anfitriões emprestaram suas bicis para visitarmos a cidade. No roteiro deu pra visitar a livraria anarquista Taverna, o já citado Aurora e a ocupação Utopia e Luta, uma das maiores das Américas. Espaço incrível de resistência no centro da cidade com 43 apartamentos e uma horta enorme no terraço. A visita levou muito tempo e infelizmente não pudemos visitar o Ateneu Libertário da Federação Anarquista Gaúcha. Fica para a próxima!
São Paulo, Santos e Peruíbe
Em São Paulo, além de consumir litros de açaí, ir ao museu para ver pinturas como uma de Hieronymus Bosch e entrar no campus da USP para ver a capivaras, falamos em vários locais, inclusive em uma sala no edifício Copam., na livraria Casa Plana e no Centro de Cultura Social, um dos espaços anarquistas mais antigos do Brasil, ativo desde 1933.
Ainda deu tempo de ir na pizzada da Casa da Lagartixa Preta, em Santo André. Gerida pelo Coletivo Ativismo ABC, a Casa existe há mais de 15 anos e é um dos grandes projetos que se materializaram em um centro social após o fim dos movimentos antiglobalização do início dos anos 2000.
Depois visitamos o Semente Negra onde acontece o No Gods No Masters Fest, em Peruíbe, para reabastecer de livro e zines nossas malas e passar na Feira Junina Vegana da cidade. Também visitamos a Aldeia Tapirema, território Tupi Guarani recém retomado que agora estão compondo um conjunto de 12 aldeias em uma terra ancestral, num dos locais onde se deu início da urbanização e colonização imperial do Brasil. Nessa aldeias, anarquistas do litoral paulista atuam em solidariedade com os povos Guaranis em sua resistência, onde reconstituem assentamentos tradicionais e preservam as matas e as águas dos avanços da capitalistas e estatais. Trocamos algumas horas de conversas com indígenas locais e nossos amigos que nos levaram para conhecer esse território e essa experiência inspiradores.
O último evento no estado de São Paulo foi em Santos, na Cinemateca de Santos, um espaço autônomo que conserva um gigantesco acervo de filmes, abriga cineclubes e também debates. O evento foi organizado por anarquistas da Biblioteca Carlo Aldegheri.
Divinópolis e Itaúna
Em Divinópolis falamos no SINPRO, sede do sindicato dos professores estaduais. O público era composto por uma mistura incomum de sindicalistas ferozes e punks stinerianos. Fizemos uma mesa redonda com uma dúzia de pessoas sobre o lançamento do livro. Muito debate e muitas perguntas sobre a relação entre democracia e as questões raciais, especialmente no contexto brasileiro e estadunidense. Membros de diferente organizações se interessaram pelos temas do livro falaram sobre a intenção de levar uma copia para cada sindicato de professores da cidade e para bibliotecas do máximo de escolas possíveis.
No dia seguinte falamos em um espaço de show de um bar em Itaúna e seguimos viagem cedo para Belo Horizonte.
Belo Horizonte
Em BH participamos de duas falas. A primeira foi na escola de arquitetura da UFMG apresentando o livro em um mesa de debates composta por nós do coletivo CrimethtInc. e dois outros membros de movimentos sociais e da política local, mediadas por mais um quarto companheiro que também apresentava, propunha questões para aprofundar o debate. Uma delas foi uma militante dos movimentos de moradia [Brigadas Populares] e vereadora da plataforma Muitas/PSOL, que, como outros partidos como Podemos na Espanha ou Syriza na Grécia, surgiu em meio aos movimentos sociais e agitações populares, conseguindo eleger candidatas que vinham de uma longa trajetória de movimentos de base a cargos legislativos. O último componente da mesa era membro da Unidade Popular, partido socialista recém formado que também traz militantes das lutas de moradia (MLB/PCR).
Cada um dos 3 participantes expôs suas reflexões embasadas nas lutas e nos movimentos dos quais participam. Falamos por último, tentando adaptar a apresentação do livro ao contexto apresentado pelos outros participantes e abrindo para um debate animado. Belo Horizonte, diferentemente de muitas cidades, teve um Junho de 2013 que conseguiu reunir diversos espectros da esquerda, anarquistas, trotskistas, stalinistas, socialistas e indivíduos independentes que participavam da Assembleia Popular Horizontal e saiam às ruas juntos, criando um convívio em comum, o que permitiu por exemplo que essa mesa fosse possível.
Da nossa parte foi possível mostrar diferença em princípios e projetos, avaliar criticamente o uso dos aparelhos democráticos do Estado e a participação na política institucional. Percebemos que nossos colegas, mesmo que participando de partidos e exercendo mandatos no legislativo, reconhecem que tal estratégia pode gastar mais energia do que dar retorno e concordam que o que realmente promove mudança social é a luta nas ruas e através da ação direta, auto-organizada das pessoas – ainda que isso não se configure em um abandono da uma posição apaziguadora, atestar a falência do sistema democrático participativo e mesmo assim continuar legitimando-o.
No dia seguinte, uma sexta feira, falamos na Kasa Invisível sobre a resistência anarquista ao governo Trump. Belo Horizonte, como quase todas as grande cidades brasileiras, conta com grandes ocupações de bairros ou prédios onde vivem centenas ou milhares de pessoas. No entanto a Kasa Invisível é a única ocupação nos moldes dos movimentos das okupas/squats autônomos, autogeridos e anárquicos. É um conjunto de 3 casas na divisa do centro da cidade com uma das áreas mais nobres, sendo já a ocupação mais longa desse tipo na cidade. Servindo de moradia, centro social e equipamento cultural aberto para a comunidade, além de espaço para reuniões, seminários e eventos para coletivos e movimentos sociais que não possuem espaço próprio. Se mantém enquanto espaço sem ligação com partidos ou outras instituições, sob os princípios de horizontalidade, autogestão e anticapitalismo.
Paraty e Rio de Janeiro
Saímos logo após o debate de sexta em BH para pegar dois ônibus para conseguir chegar à FLIPEI, em Paraty, para participar de uma mesa sábado no início da tarde sobre insurreições no Brasil e o lançamento da coletânea Chamada e uma a noite sobre a resistência anarquista e antifascista. A mesa seria dividia com Acácio Augusto, anarquista e professor universitário de São Paulo, e com Mark Bray lançando seu livro Manual Antifascista em português. A FLIPEI é a Festa Literária Pirada das Editoras Independentes, organizada por editoras de esquerda e independentes, que acontece em Paraty ao mesmo tempo que a FLIP, uma feira literária tradicional que é uma das maiores das Américas.
Na FLIPEI, aconteceram dezenas de debates e palestras sempre em um barco pirata ancorado no porto. Grandes nomes dos movimentos sociais, intelectuais e todo tipo de ativista, militante de esquerda e alguns anarquistas estiveram presentes nos 5 dias de encontro. Infelizmente só fomos capazes de estar lá durante o sábado. No primeiro andar do barco, fica a loja de livros e publicações diversas. À noite o visual era incrível: no segundo, é onde ficam palestrantes e participantes dos painéis. A galera fica em terra firme enquanto balançamos no rio há pouco mais de 500 metros do encontro com mar. Depois de vários aviões, ônibus, trens, carros e muita caminhada, só faltava mesmo pegarmos um barco.
Domingo fomos para a cidade do Rio de Janeiro para nossa penúltima atividade. Falamos no espaço Fosso, em Santa Tereza. O bairro fica entre o Morro dos Prazeres e do Fallet. A vista é de tirar o fôlego: a metrópole se estende diante de nós até o encontro da cidade com o mar. Vimos pequenos macacos pulando de árvore em árvore na mata em entre as casas. Da varanda, podíamos ouvir todos os sons dos vários bairros do Rio abaixo: festas estridentes, música ao vivo, motores de carros, latidos de cães, helicópteros da polícia e - ocasionalmente - tiros.
Finalmente, na terça-feira, dia 16 de julho, fizemos nossa última atividade no Morro da Providência, a favela mais antiga do Rio de Janeiro, localizada no centro. A atividade foi organizada pela Organização Anarquista Terra e Liberdade (OATL) e pela Rede de Informações Anarquistas (RIA). O espaço do debate foi em frente à sala do Pré-Vestibular Comunitário Machado de Assis, onde desde 2009 anarquistas tocam junto da comunidade um cursinho popular voltado para jovens da Providência e região poderem prestar vestibular.
A fala inicial foi de um ex-aluno que hoje está se formando na faculdade agora é professor no cursinho. Com certeza, foi uma das falas mais cheias e animadas da turnê. Foi simplesmente incrível terminar com todo o pessoal ali do cursinho, estudantes, professores e militantes de diversos grupos que também compareceram. Ficamos muito felizes em debater em meio a um projeto tão duradouro e importante, com várias pessoas mais jovens falando sobre formas de resistência, o contexto da repressão no Brasil e nas favelas, sobre organização e movimentos sociais. Além de traçar paralelos e semelhanças entre o contexto das classes oprimidas, da população negra e das formas de luta nos Estados Unidos e no Brasil.
Como dissemos, o que nos une na nossa luta contra formas análogas de opressão é muito maior do que as fronteiras, o idioma e os contextos que tentam nos separar.
Considerações Finais
Gostaríamos de agradecer a todas as pessoas ajudando a levar essa viagem e os debates adiante. Seja organizando eventos, compartilhando ideias, comidas, sofás e colchões, além de comprar e ajudar a difundir o livro e vários materiais que levamos conosco. E claro, trocando ou nos presenteando com publicações e vários materiais incríveis produzidos em cada cidade. Essa rede de apoio é o que torna possível cruzar países e continentes e estabelecer conexões duradouras entre movimentos e centros sociais anarquistas e anticapitalistas.
A luta anarquista só é possível se pudermos construir laços, solidariedade e intercâmbio entre os povos de diferentes territórios, derrubando cercas e fronteiras que tentam nos dividir.
Até a próxima! Nos vemos na luta!
Apêndice: Arte de Rua no Brasil
Em comparação com os Estados Unidos, as ruas do Brasil estão repletas de intervenções não autorizadas, desde a intencionalmente antiestética pixação aos escritos de tirar o fôlego que cobrem quarteirões inteiros. Aqui estão apenas alguns exemplos que chamaram nossa atenção dos olhares de nossos camaradas de fora.